A desnutrição pode ser definida como uma condição clínica decorrente de uma deficiência ou excesso, relativo ou absoluto, de um ou mais nutrientes essenciais.
Causas
A desnutrição pode apresentar caráter primário ou secundário, dependendo da causa que a promoveu.
Causas primárias
A pessoa come pouco ou“mal”. Ou seja, tem uma alimentação quantitativa ou qualitativamente insuficiente em calorias e nutrientes.
Causas secundárias
A ingestão de alimentos não é suficiente porque as necessidades energéticas aumentaram ou por qualquer outro fator não relacionado diretamente ao alimento. Exemplos: presença de verminoses, câncer, anorexia, alergia ou intolerância alimentares, digestão e absorção deficiente de nutrientes.
Outros fatores relacionados às causas da desnutrição
A desnutrição também pode ser causada por:
Desmame precoce
O desmame precoce pode causar desnutrição em crianças entre 0 e 2 anos de idade. De modo geral, o desmame no Brasil se dá em torno de duas semanas ou num período menor do que três meses de idade. A alimentação introduzida normalmente é insuficiente para satisfazer as necessidades dos lactentes entre famílias de baixo poder aquisitivo. Além disso, as condições sanitárias insatisfatórias e práticas inadequadas de higiene acompanham a desnutrição, o que favorece a ocorrência de parasitoses, infecções e diarréia. O apetite diminui por causa das dores abdominais e às vezes da febre.
A criança passa a comer menos do que o normal e provavelmente menos do que precisa para ter um crescimento e desenvolvimento normais.
Socioeconômicos
Crianças provenientes de famílias de baixa renda apresentam um risco maior relacionado a deficiências alimentares. Além disso, condições sanitárias precárias contribuem para o aparecimento de infecções, parasitoses e da desnutrição.
Culturais
Fatores culturais influenciam muito o consumo de alimentos. Mitos, crenças e tabus podem interferir negativa ou positivamente nos aspectos nutricionais, sendo mais comuns os prejuízos que os benefícios.
Renda e disponibilidade de alimentos:
Quanto mais alta a renda, maior é o gasto com hortaliças, frutas e outros elementos variados. A dieta, é claro, tem melhor qualidade. Quanto menor a renda, maior o comprometimento tanto da qualidade quanto da quantidade de alimentos consumidos.
Métodos de Diagnóstico
Existem diversos métodos de diagnosticar a desnutrição. Eles vão desde uma avaliação clínica (observação de características como peso, altura e idade) até uma completa avaliação do estado nutricional do paciente, incluindo, além da análise clínica, dados sobre alimentação, avaliação bioquímica e imunológica, avaliação metabólica e diagnóstico nutricional. Os profissionais capacitados para fazer tal diagnóstico são o nutricionista e o médico.
Conseqüências
A desnutrição leva a uma série de alterações na composição corporal e no funcionamento normal do organismo. Quanto mais grave for o caso, maiores e também mais graves serão as repercussões orgânicas. As principais alterações são:
NORMAL DESNUTRIÇÃO |
- Grande perda muscular e dos depósitos de gordura, provocando debilidade física.
- Emagrecimento: peso inferior a 60% ou mais do peso ideal (adultos) ou do peso normal (crianças).
- Desaceleração, interrupção ou até mesmo involução do crescimento.
- Alterações psíquicas e psicológicas: a pessoa fica retraída, apática, estática, triste.
- Alterações de cabelo e de pele: o cabelo perde a cor (fica mais claro), a pele descasca e fica enrugada.
- Alterações sangüíneas, provocando, dentre elas, a anemia.
- Alterações ósseas, como a má formação.
- Alterações no sistema nervoso: estímulos nervosos prejudicados, número de neurônios diminuídos, depressão, apatia.
- Alterações nos demais órgãos e sistemas respiratório, imunológico, renal, cardíaco, hepático, intestinal etc.
A pessoa desnutrida fica mais sujeita a infecções, por causa da perda muscular e, especialmente, da queda nas defesas corporais.
Todos esses problemas são mais graves nas crianças de 0 a 5 anos de idade, porque elas são mais vulneráveis biologicamente e mais dependentes do ponto de vista social e econômico. Convém lembrar ainda que nesse período da vida o crescimento e desenvolvimento físico e mental são muito acentuados.
Outros efeitos da desnutrição são o aumento da morbidade e da mortalidade, além de hospitalização e convalescência prolongadas.
Uma população desnutrida representa também maiores gastos em saúde para o país, desde os cuidados primários até a internação. Além disso, é mais difícil para essa população conseguir emprego, o que acarreta problemas socioeconômicos que podem agravar ainda mais o quadro da desnutrição em todo o país, gerando um ciclo vicioso.
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Prevenção
As principais maneiras de prevenir a desnutrição são:
- Orientar corretamente a população a respeito do aleitamento materno, através da formação de profissionais de saúde e educadores capacitados.
- Divulgar informações práticas sobre o conceito de alimentação saudável em locais e em meios de comunicação de fácil acesso à população.
- Realizar programas governamentais de suplementação alimentar que atinjam todo o país e, especialmente, os mais necessitados.
O tratamento da desnutrição varia de acordo com a gravidade da doença. Os principais objetivos do tratamento são:
- Recuperar o estado nutricional.
- Normalizar as alterações orgânicas ocasionadas pela desnutrição.
- Promover o crescimento (no caso das crianças) e o ganho de peso.
Existem recomendações gerais que ajudam no tratamento de desnutridos: uma dieta específica para o caso, aliada a uma educação (ou reeducação) alimentar; orientações sobre higiene alimentar e pessoal; e a participação familiar e comunitária nesse processo. Vamos tratar desses temas a seguir.
Dieta e educação alimentar
A dieta deve possibilitar a reposição, manutenção e reserva adequadas de nutrientes no organismo. Para tanto, deve ser elaborada e acompanhada por um nutricionista.
A educação alimentar é muito importante em todas as etapas da vida. Como a desnutrição é bastante comum na infância, torna-se essencial e urgente que as pessoas que fazem parte do processo de educação/formação das crianças (família, professores) tenham acesso a informações sobre o correto aproveitamento dos alimentos e a alimentação saudável. Só então as crianças poderão ser bem orientadas e cuidadas!
Algumas sugestões para aproveitar ao máximo o valor nutritivo dos alimentos, em especial das frutas e verduras:
- Frutas e verduras devem ser consumidas bem frescas, pois os nutrientes vão se perdendo com o amadurecimento e com o tempo de armazenamento.
- Evite bater esses alimentos no liqüidificador para não perder algumas vitaminas, como a vitamina C.
- Ao cozinhar as verduras, mantenha a tampa da panela fechada.
- Não cozinhe demais os alimentos, principalmente os vegetais.
- Aproveite a água que sobrou do cozimento para preparar outro prato, como sopas, cozidos ou sucos.
- Não coloque nenhuma substância para ressaltar a cor dos vegetais (como bicarbonato de sódio), pois as vitaminas se perdem.
- Não submeta nenhum alimento a temperaturas altas demais; prefira o fogo brando. n Conserve os alimentos de maneira adequada: em geladeira ou à temperatura ambiente, entre 20 e 27o C.
É importante dar orientações sobre a melhor forma de ter uma alimentação equilibrada, levando em consideração a realidade da população. Esse tipo de orientação é indispensável no tratamento, mas principalmente na prevenção da doença.
Higiene alimentar e pessoal
As parasitoses podem, indiretamente, levar à desnutrição, por vários motivos:
- Diminuição da capacidade de absorção de nutrientes.
- Hemorragias ocultas, isto é, a pessoa não sabe que está perdendo sangue, o que acaba provocando anemia, entre outras deficiências de nutrientes.
- Diarréias freqüentes, o que dificulta o aproveitamento dos alimentos pelo organismo etc.
Alimentação saudável
O Ministério da Saúde elaborou “os 10 mandamentos da alimentação saudável”, com as atitudes que devem ser seguidas no dia-adia para garantir uma dieta equilibrada. É importante lembrar que estas são recomendações para pessoas saudáveis. São elas:
- Comer frutas e verduras. Esses alimentos são ricos em vitaminas, minerais e fibras.
- Para cada 2 colheres de arroz, comer 1 de feijão. Esses dois alimentos se complementam, principalmente no que diz respeito às proteínas (a proteína que falta em um, tem no outro e viceversa). O hábito bem brasileiro de comer o arroz com feijão tem sido bastante recomendado!
- Evitar gorduras e frituras. Comer muitos alimentos ricos em gorduras pode provocar o aparecimento de doenças como a obesidade, doenças cardiovasculares, hipertensão e diabetes, entre outras.
- Usar 1 lata de óleo para cada 2 pessoas da casa por mês. Essa medida serve para a pessoa ter uma idéia da quantidade de óleo que deve ser usada no preparo dos alimentos.
- Realizar 3 refeições principais e 1 lanche por dia. Isso evita longos períodos em jejum. O ideal é comer mais vezes por dia, mas em menores quantidades (aumentar a freqüência e diminuir o volume). Quem fica muitas horas sem se alimentar acaba sentindo muita fome e comendo exageradamente — o mesmo acontece com quem não tem hora certa para comer ou “pula” uma das refeições;
- Comer com calma e não na frente da T. V. Quando comemos com pressa, não saboreamos o alimento e demoramos mais tempo para ficar satisfeitos. Por isso, comemos mais. É como se o organismo não tivesse tempo suficiente para “perceber” a quantidade de alimento ingerida. Comer e assistir à televisão ao mesmo tempo faz com que a pessoa se distraia e não controle a quantidade de alimentos que está consumindo. Além disso, as propagandas de produtos alimentícios despertam ainda mais o apetite e, por conseqüência, a gula.
- Evitar doces e alimentos calóricos. Devemos prestar atenção não só na quantidade, mas também na qualidade dos alimentos, pois existem aqueles que são pobres em nutrientes e ricos em calorias. São chamados “calorias vazias”. O consumo exagerado desses alimentos, que em geral são os doces e alimentos gordurosos, facilitam o surgimento de doenças como a obesidade, diabetes e doenças do coração, entre outras.
- Comer de tudo, mas caprichar nas verduras, legumes, frutas e cereais. Não é preciso “cortar” nenhum alimento da dieta. Basta estar atento às quantidades e dar preferência aos alimentos ricos em nutrientes ao invés de calorias. É importante ainda não esquecer os “sagrados” 8 copos de água por dia.
- Atividade física: duração e freqüência. O ideal é fazer um pouco de atividade física
- todos os dias. Você não precisa ficar várias horas fazendo exercícios e suando sem parar. “Pegar pesado” é para atletas. A criança, assim como as pessoas em geral, deve procurar uma atividade que lhe agrade, convidar um amigo para participar... o professor de Educação Física é a pessoa certa para dar orientações sobre o assunto. O que você não pode é ficar parado!
Dicas de higiene dos alimentos
- Tocar nos alimentos apenas antes de cozinhar ou durante a lavagem dos mesmos (e com as mãos bem limpas!).
- Beber somente água filtrada ou fervida.
- Lavar muito bem as verduras, legumes e frutas, usando sabão e água corrente, se possível, filtrada ou fervida.
- Cozinhar bem os alimentos, principalmente as carnes.
- Fazer a comida perto do horário de servi-la.
- Manter os alimentos cobertos ou em recipientes bem fechados.
- Não falar, tossir ou espirrar em cima dos alimentos.
- Não comer alimentos com aparência ou cheiro impróprios.
Dicas de higiene pessoal
- Tomar banho todos os dias e manter-se limpo.
- Manter as unhas limpas e cortadas.
- Escovar os dentes após as refeições.
- Usar roupas limpas.
- Lavar as mãos: antes de pegar em alimentos; antes de comer qualquer alimento; depois de ir ao banheiro; depois de pegar em dinheiro, em algum objeto sujo ou em animais.
Vida saudável
Para ter uma vida saudável, não basta uma dieta equilibrada ou a prática de exercícios físicos. Em cada etapa da vida, existem atividades que devem fazer parte do cotidiano do indivíduo. Na infância, são as brincadeiras, a presença dos pais ou responsáveis e dos professores, os colegas e os estudos...
Para a nossa sorte, o conceito de saúde aceito atualmente engloba não apenas o estado físico, mas também o mental e o social. Sendo assim, o significado dessa palavra, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) é o seguinte:
“A saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não meramente a ausência de doenças e enfermidades.”Tal conceito requer bastante reflexão e atitude pois torna a sociedade como um todo, e não apenas profissionais e políticos, responsável pela saúde da população.
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