É uma toxiinfecção aguda que em geral ataca a pele e raramente o nasofaringe, vias
respiratórias inferiores, mediastino e vias intestinais. A forma cutânea se manifesta inicialmente
por prurido na pele exposta ao agente seguido do aperecimento de lesões confluentes: pápulas,
pústulas, vesículas e úlceras indolores que em dois a seis dias transformam-se em escaras escuras.
Os locais mais freqüentes da infecção são cabeça e mãos. Quando não tratada dissemina-se
para os linfonodos regionais e para a corrente sangüínea, e conseqüentemente pode ocorrer
septicemia. A letalidade da forma cutânea sem tratamento pode atingir 5 a 20%. A forma
respiratória, via de regra, é letal. Os sintomas iniciais são mínimos e inespecíficos e assemelhamse
a uma infecção comum das vias respiratórias superiores mas após três a cinco dias aparecem
os sintomas agudos de insuficiência respiratória, sinais radiológicos de alargamento mediastínico,
febre, choque e logo depois morte. A forma intestinal, adquirida por ingestão de carne
contaminada, é rara e mais difícil de ser identificada, exceto quando existe vínculo
epidemiológico. Caracteriza-se por mal-estar abdominal, vômitos, febre, que evolui para diarréia
sanguinolenta, abdome agudo, sinais de septicemia e morte. A enfermidade primária
bucofaríngea é rara, e quando ocorre, manifesta-se por lesão de mucosa na cavidade oral ou da
orofaringe, acompanhada de adenopatia cervical, edema e febre.
SINONÍMIA: anthrax, carbúnculo. Na língua inglesa é conhecido como anthrax. No Brasil, a
confluência de furuncúlos, que é um diagnóstico clínico diferencial da toxiinfecção causada pelo
Bacillus anthracis, tanto é denominada como cárbunculo como antraz. Na vigência desta
furunculose multifocal a suspeita de infecção pelo Bacillus anthracis, deve ser levantada quando
há história epidemiológica compatível.
ETIOLOGIA: Bacillus anthracis, bacilo móvel, gram positivo, encapsulado, formador de esporos.
RESERVATÓRIO: animais herbívoros, domésticos e selvagens. Os esporos resistem viáveis em
solos contaminados e em couros secos.
MODO DE TRANSMISSÃO: contato da pele, inalação ou ingestão de esporos existentes em tecidos ou
objetos contaminados - lã, couro, osso e pelo - de animais (bois, ovelhas, cabras, cavalos). Aventa-se
a possibilidade de transmissão por insetos que tenham se alimentado dos ditos animais. Contato
com solo contaminado. A transmissão direta de um indivíduo infectado para uma pessoa sadia é
muito pouco provável de ocorrer.
PERÍODO DE INCUBAÇÃO: de 24 horas a sete dias.
PERÍODO DE TRANSMISSIBILIDADE: quando a contaminação se dá por objetos e solos contaminados
por esporos, estes permanecem infectantes por décadas.
COMPLICAÇÕES: pneumonia, hemorragia gastro-intestinal, septicemia, meningites.
DIAGNÓSTICO: clínico-epidemiológico e laboratorial. Este último é feito mediante isolamento
do Bacillus anthracis no sangue, lesões, secreções, ou tecidos (histopatologia). Pode-se ainda
detectar anticorpos no sangue pela técnica de imunofluorescência.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: furunculose cutânea causada por Staphylococcus e ou Streptococcus,
dermatite pustulosa contagiosa (enfermidade vírica de Orf).
TRATAMENTO: para os casos confirmados com cepas do Bacillus anthracis sensíveis à amoxicilina, esta
é a droga de escolha, sendo a dose para adultos de 500mg, VO, 3 vezes ao dia e para crianças com
menos de 20kg, usar 40mg/kg/dia, VO dividida em três doses diárias. Pode-se utilizar também
doxiciclina como segunda escolha. Para cepas resistentes utiliza-se a ciprofloxacina por via oral na
dose de 500mg, duas vezes ao dia para adultos e em crianças menores de 20kg, 20 a 30mg/kg por
dia, dividida em duas doses diárias. O esquema utilizado deve ser mantido por 60 dias. Avaliar
indicação de utilização desta droga por via parenteral.
CARACTERÍSTICAS EPIDEMIOLÓGICAS: o homem é um hospedeiro acidental e a incidência é muito
baixa e geralmente esporádica em quase todo o mundo. É um risco ocupacional de trabalhadores
que manipulam herbívoros e seus produtos. Tem casos registrados na América do Sul e Central,
Ásia e África. Recentemente ocorreram casos nos Estados Unidos da América que tem sido
imputados a guerra biológica.
OBJETIVOS DA VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA: diagnóstico e tratamento precoce dos casos para
evitar complicações e óbitos. Identificação da fonte de infecção para adoção de medidas de
controle e desinfecção concorrente. Não há indicação de Isolamento dos casos.
NOTIFICAÇÃO: evento inusitado de notificação compulsória imediata.
DEFINIÇÃO DE CASO
⇒ SUSPEITO:
um caso compatível com a descrição clínica ou que tenha exposição a algum
material, ou animal ou produtos animais contaminados pelo B. anthracis.
⇒ CONFIRMADO:
a) indivíduo com infecção pelo B. anthracis confirmada laboratorialmente;
b)
indivíduo com exposição a algum material, ou animal ou produtos animais contaminados
pelo B. anthracis e quadro clínico compatível.
MEDIDAS DE CONTROLE: a vacina humana só produz imunidade após 18 meses da aplicação. Nos
EUA a vacina humana é utilizada somente em grupos especiais e não está disponível no Brasil.
A quimioprofilaxia não está indicada de modo indiscriminado por ser ineficaz e poder gerar
resistência medicamentosa. Administra-se só em situações específicas onde tenha ocorrido uma
exposição de risco. É iniciada enquanto são aguardados os resultados finais confirmatórios, nasseguintes situações:
a) exposição com elevado grau de suspeição;
b) detecção de presença de
bactérias morfologicamente semelhantes ao B. anthracys.
Utiliza-se:
a) amoxicilina na dose de
500mg, três vezes ao dia, para adultos e 40mg/kg/dia para crianças com menos de 20kg, dividida
em três doses diárias;
b) ou doxociclina 100mg/2 vezes ao dia, em adultos, para crianças com
menos de 20kg, 5mg/kg/dia, divididas em duas doses diárias;
c) em casos de resistência aos
antibióticos anteriores a droga indicada é a ciprofloxacina por via oral na dose de 500mg, duas
vezes ao dia para adultos e em crianças menores de 20kg, 20 a 30mg/kg por dia, dividida em
duas doses diárias. O esquema utilizado deve ser mantido por 60 dias.
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